A MORTE por Eliphas Levi (falecido) - Parte I

Cartas dos Mahatmas Para A.P Sinnett, vol. 2, pp. 372/380, Ed. Teosófica

Apêndice I de LBS[1] Outubro de 1881

Nota da 1a. edição [1]:  Artigo publicado em The Theosophist em outubro de 1881. A página tem comentários marginais com a letra de K. H., impressos aqui em negrito na coluna paralela ao texto do artigo. e aos quais se referem os números entre parênteses. As passagens sublinhadas foram assinaladas assim por K. H. 

A MORTE por Eliphas Levi (falecido)

Parte I

A MORTE é a necessária dissolução das combinações imperfeitas (1). 

Comentário de K.H.: 
(1) Dos 1º.,2º., 3º., 4º. e 5º. Princípios

É a reabsorção do esboço grosseiro da vida individual (2) no grande trabalho da vida universal; só o que é perfeito (3) é imortal.

Comentários de K. H.:
(2) A personalidade ou Eu pessoal.
(3) O 6º. e 7º Princípios.

Ela é um banho de esquecimento (4). 

Comentário de K.H.: 
(4) Até a hora da lembrança.

É a fonte da juventude, onde de um lado mergulha a velhice, e de onde, por outro lado, emerge a infância [2]

Nota da Editora do Theosophist [2]: Renascimento do Ego depois da morte. A doutrina oriental, e especialmente budista, do surgimento do novo Ego a partir do velho.

A morte é a transfiguração do que vive; os cadáveres são apenas as folhas mortas da Árvore da Vida, que ainda tem todas as suas folhas na primavera (5). 

Comentário de K.H.: 
(5) Na linguagem do cabalista, "primavera" significa o começo daquele estado em que o Ego atinge sua onisciência.

A ressurreição (6) dos homens se assemelha eternamente a estas folhas.

Comentário de K.H.: 
(6) A "ressurreição em vida eterna" dos caldeus, adotada por empréstimo pelos cristãos, significa ressurreição no Nirvana.

As formas perecíveis são condicionadas por tipos imortais. Todos que viveram sobre a terra vivem ali, ainda, em novos exemplares dos seus tipos, mas as almas que ultrapassaram o seu tipo recebem em outro lugar uma nova forma baseada em um tipo mais perfeito; à medida que eles sempre sobem pela escada dos mundos;[3] os maus exemplares são quebrados, e a matéria deles retoma à massa geral.[4]

Nota do Ed. do Theosophist [3]: De um lokka para outro; de um mundo positivo de causas e atividade, para um mundo negativo de efeitos e passividade. 
Nota do Ed. do Theosophist [4]: Para a matéria cósmica, quando eles perdem necessariamente sua autoconsciência ou individualidade (7), ou são aniquilados, como os cabalistas orientais dizem. 

Comentário de K.H. 
(7) A sua mônada, 6º e 7º Princípios

Nossas almas são como música, da qual nossos corpos são os instrumentos. A música existe sem os instrumentos, mas não pode ser ouvida sem um intermediário material (8); o
que é imaterial não pode nem ser concebido nem compreendido.

Comentário de K.H.: 
(8) Por isso um espírito não pode comunicar-se.

Na sua existência atual, o homem só retém certas predisposições das suas existências prévias (9).

Comentário de K.H.: 
(9) Carma

Evocações dos mortos são apenas condensações de memória, a coloração imaginária das sombras. Evocar aqueles que não existem mais é apenas fazer com que os seus tipos saiam de novo da imaginação da natureza.[5]

Nota do Ed. do Theosophist [5]: Desejar ardentemente ver uma pessoa morta é evocar a imagem daquela pessoa e chamá-la da luz astral ou éter em que estão fotografadas as imagens do Passado. Isso é o que é feito, em parte, nas salas de sessões espíritas. Os espíritas fazem NECROMANCIA inconscientemente. 

Para estar em comunicação direta com a imaginação da natureza, o indivíduo deve estar adormecido, ou intoxicado, em um êxtase, em estado cataléptico ou louco (10).

Comentário de K.H.: 
(10) E para estar em comunicação direta com a inteligência da Natureza, o indivíduo deve tornar-se um Adepto.

A memória eterna só preserva o que é imperecível; tudo o que passa no Tempo pertence, por direito, ao esquecimento. A preservação de cadáveres é uma violação das leis da natureza; uma afronta contra a modéstia da morte, que oculta os trabalhos de destruição, assim como deveríamos ocultar os de reprodução. 
Preservar cadáveres é criar fantasmas na imaginação da terra (11); [6] os espectros do pesadelo, da alucinação e do medo são apenas as fotografias ambulantes de cadáveres preservados (12).

Nota do Ed. do Theosophist [6]: É intensificar estas imagens na luz astral ou sideral. 

Comentários de K.H.: 
(11) Nós nunca enterramos nossos mortos. Eles são incinerados ou deixados sobre a terra.
(12) Seus reflexos na luz astral.

São estes cadáveres preservados ou imperfeitamente destruídos que espalham, entre os vivos, as pragas, a cólera, as doenças contagiosas, a tristeza, o ceticismo e a falta de gosto pela vida.[7] 

Nota do Ed. do Theosophist [7]: As pessoas começam intuitivamente a compreender esta grande verdade, e agora são fundadas, em muitos lugares da Europa, sociedades para a cremação de pessoas e crematórios. Ed. Theosophist.

A morte é exalada pela morte. Os cemitérios envenenam a atmosfera das cidades, e o miasma dos cadáveres faz mal até mesmo às crianças que estão no colo das suas mães.
Perto de Jerusalém, no Vale de Geena, um fogo perpétuo era mantido para a combustão da sujeira e dos esqueletos dos animais; e é a este fogo eterno que Jesus se referiu quando disse que os maus serão lançados no Geena, significando que as almas mortas serão tratadas como cadáveres.
O Talmude diz que as almas daqueles que não acreditam na imortalidade não serão imortais. É apenas a fé que confere imortalidade pessoal (13); [8] a ciência e a razão só podem afirmar que existe a imortalidade geral.

Nota do Ed. do Theosophist [8]: Fé c força-de-vontade. A imortalidade é condicional, como sempre temos afirmado. Ela é a recompensa dos bons e puros. O homem mau, o sensualista material, apenas sobrevive. Aquele que aprecia apenas prazeres materiais não viverá, e não pode viver depois como uma entidade autoconsciente. 

Comentário de K.H.: (13) No Deva-Chan o Ego vê e sente apenas aquilo a que aspirava.
Aquele que não busca uma continuação de uma vida pessoal sensível depois da morte física não a terá. Ele renascerá permanecendo inconsciente como na transição.


O pecado mortal é o suicídio da alma. Este suicídio ocorreria se o homem se devotasse ao mal com toda a força da sua mente, com perfeito conhecimento do bem e do mal, e inteira liberdade de ação, o que parece impossível na prática, mas que é possível em teoria, porque a essência de urna personalidade independente é uma liberdade incondicionada.
A divindade nada impõe ao homem, nem mesmo a sua existência. O homem tem direito de
retirar-se até mesmo da bondade divina, e o dogma do inferno eterno é apenas a afirmação
do eterno livre-arbítrio.
Deus não lança ninguém no inferno. Os homens é que podem ir para lá livremente, definitivamente e por sua própria escolha.

Aqueles que estão no Inferno, isto é, em meio à escuridão do mal [9] e aos sofrimentos do necessário castigo, sem que tenham querido isso absolutamente, são chamados a emergir dele. Este Inferno é para eles apenas um purgatório. O condenado completo, absoluto e sem trégua, é Satã, que não constitui uma existência racional, mas uma hipótese necessária.

Nota Ed. do Theosophist [9]:Isto é, eles renascem em um "mundo inferior" que não é nem "inferno" nem qualquer outro purgatório teológico, mas um mundo de matéria quase absoluta, e um mundo que precede o último no "círculo da necessidade", do qual "não há redenção, porque aí reina, absoluta, a escuridão espiritual" ("Livro de Kiu-te"). 

N. I. [10]: Satã é a última palavra da criação.

Nota da 1ª ed. [10]:  Veja a sinalização correspondente na parte II deste texto. 

Ele é o final infinitamente emancipado. Ele quis ser Deus, do qual é o oposto. Deus é a hipótese necessária para a razão, II [11], Satã é a hipótese necessária para a não-razão, que afirma a si mesma como livre-arbítrio. (14)

Nota da 1ª ed. [11]: Veja a sinalização correspondente na parte lI deste texto. 
Comentário de K.H.: 
(14)  O que marquei com lápis vermelho parecem ser contradições, mas não são.

Para ser imortal (15) no bem, o indivíduo deve identificar-se com Deus; para ser imortal no mal, com Satã. Estes são os dois polos do mundo das almas; entre estes dois polos a parte inútil da humanidade vegeta e morre sem lembranças.

Comentário de K.H.: 
(15) Em geral os hermetistas, quando usam a palavra "imortalidade", limitam a sua duração do início ao final do ciclo menor. As deficiências das suas respectivas línguas não podem ser atribuídas a eles. Não se pode falar propriamente de uma semi-imortalidade. Os antigos a chamavam de "eternidade paneônica", a partir das palavras [pan] - tudo, ou natureza, e [aion], um período de tempo que não tinha limite definido exceto para os iniciados. Veja nos dicionários como eon é o período de tempo durante o qual uma pessoa vive, o período durante o qual o universo dura, e também, eternidade. Esta era uma "palavra de mistério" e ficava propositalmente velada.

[Nota da Editora - Isto pode parecer incompreensível para o leitor comum, porque é um dos princípios mais abstrusos da doutrina Oculta (16). A natureza é dual; há nela um lado físico e material, e um lado espiritual e moral; e há bem e mal nela, sendo este último a necessária sombra da sua luz. 

Comentário de K.H.: 
(16) Ocidental.

Para abrir caminho na corrente da imortalidade, ou melhor, para garantir para si mesmo uma série sem fim de renascimentos como individualidades conscientes - diz o "Livro de Khiu-te", volume XXXI (17), o indivíduo deve tomar-se um colaborador da natureza, seja para o bem ou para o mal, seja no trabalho dela de criar e reproduzir, ou no de destruir (18). 

Comentários de K.H.:  
(17) Capítulo (I).
(18) Esta frase se refere aos dois tipos de iniciados - os adeptos e os feiticeiros

Ela só expele os parasitas inúteis, ejetando-os violentamente, fazendo-os morrer aos milhões (19) enquanto entidades autoconscientes. (20).

Comentários de K.H.: 
(19) Um dos costumeiros exageros dela.
(20) Duas palavras inúteis.

Assim, enquanto os bons e puros se esforçam por alcançar Nipang (Nirvana, ou aquele estado de existência absoluta e consciência absoluta que, no mundo das percepções finitas, é não-existência e não-consciência) - os maus buscam, ao contrário, uma série de vidas com existência e como seres conscientes e definidos, preferindo estar sempre sofrendo sob a lei da justiça retribuidora (21) a desistir das suas vidas como parcelas do todo integral e universal. 

Comentário de K.H.: 
(21) Carma.

Estando bem conscientes de que nunca poderão esperar obter o descanso final no puro espírito, ou Nirvana, eles preferem agarrar-se à vida sob qualquer forma (22), ao invés de abandonar aquele "desejo de viver" ou Tanha que faz com que renasça uma nova agregação de skandas ou individualidade.* 

Comentários de K.H.: 
(22) Através de médiuns que têm existido em todas as partes e em todas as épocas.
* Veja nota nas páginas anexas.

A natureza é uma mãe tão boa para a cruel ave de rapina quanto para a pomba inofensiva. A Mãe Natureza punirá seu filho, mas como ele se tornou colaborador dela para a destruição, ela não pode ejetá-lo. (23) 

Comentário de K.H.: 
(23) Não durante o eon, bastando para isso que eles saibam como forçá-la. Mas é uma vida de torturas e eterno ódio. Se você acredita em nós, como pode descrer deles.

Há homens totalmente maus ou depravados, e no entanto tão altamente intelectuais e agudamente espirituais, para o mal, como aqueles que são espirituais para o bem. (24)

Comentário de K.H.: 
(24) São os Irmãos da sombra.

Os Egos destes podem escapar da lei da destruição final ou aniquilação durante eras por vir (25). 

Comentário de K.H.: 
(25) A maior parte tem de sair fora deste planeta no oitavo, como ela diz. Mas os mais elevados viverão até o próprio limiar do Nirvana final.

Isto é o que Eliphas Levi chama de tomar-se "imortal no mal", através da identificação com Satã. "Oxalá fosses frio ou quente!*, diz a visão do Apocalipse a João (3:15-16): "Assim, porque és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar da minha boca". O Apocalipse é um livro absolutamente Cabalístico. Calor e frio são os dois "polos", isto é, o bem e o mal, espírito e matéria. A natureza vomita o "morno" ou "a porção inútil da humanidade" para fora da sua boca; isto é, a aniquila. Esta concepção de que uma parte considerável da humanidade, pode, afinal de contas, não ter almas imortais, não é nova nem mesmo para leitores europeus. O próprio Coleridge comparou o caso com a situação de um carvalho carregado de fato com milhões de bolotas [12] das quais, em condições nominais (26), nem sequer uma em mil jamais se transformará em uma árvore, e sugeriu que, assim como a maior parte das bolotas não se torna uma nova árvore viva, assim, também, possivelmente, a maior parte dos homens não poderá se transformar em uma nova entidade viva depois desta morte terrena.]

Comentário de K.H.: 
(26) Normais.

Nota do ed. bras [12]: Bolotas - acorns em inglês - são os frutos do carvalho. 




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